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quarta-feira, 17 de agosto de 2011

A alma e a botija



Era uma vez um rei que enviou seu servo numa longa jornada: “Vês esta estrada, meu servo? Seguirás por ela sem te desviares. O reino para onde te envio está no final dela. Na tua jornada levarás esta botija, a qual entregarás ao rei daquele reino.”
Assim, conforme foi ordenado, partiu o servo, levando a preciosa botija – obra-prima do oleiro. A estrada se perdia de vista. Atravessava vales e rios. Algumas vezes percorria o alto dos montes, outras vezes o fundo dos vales. Havia trechos ladeados de árvores que proporcionavam refrescante sombra, mas havia outros áridos que eram fustigados pelo sol.
Passados muitos dias, o servo encontrou uma caravana de ciganos. Estes insistiram e acabaram por convencê-lo a seguir com eles. Logo o servo aprendeu a arte de trapacear nos jogos de sorte e de mentir, fingindo ver na palma da mão o destino de crédulos incautos.
Enganado e enganando, o servo não viu o tempo passar. Um dia, como a acordar de um pesadelo, lembrou-se da ordem do rei e foi procurar a botija.
Achou-a jogada, empoeirada e com muitas trincas. Tomou-a e voltou para a estrada. Mas não por muito tempo!
Entre os vadios, o servo adquiriu o desleixo e a indolência. Bastou encontrar a primeira subida no caminho para abandonar outra vez a estrada, procurando desbordar a montanha por um atalho.
Assim fazendo, acabou por se deparar com uma cidade onde um templo idólatra estava sendo construído.
O servo que aprendera também a ganância e o amor ao dinheiro, aceitou ajudá-los em troca de um bom salário.
O templo demorou anos para ser terminado. Durante este tempo, ele passou a seguir os costumes locais e se tornou como um deles. Entregou-se ao pernicioso culto aos ídolos e às práticas e costumes pagãos. Adquiriu novos vícios e prostituiu-se como era tradição daquele povo.
Com o passar do tempo, tornou-se fraco e doente; miserável e abatido. Perdeu tudo que tinha e foi desprezado e expulso da cidade.
Na sua miséria, lembrou-se da botija e da ordem do rei. Sentiu que a única chance, a botija, cuja trincas eram agora rachaduras, estava completamente abandonada. Havia perdido todo brilho e beleza.
Trôpego e cansado, o servo retomou a estrada.
Agora pelo caminho já não havia ciganos que se interessassem por ele, ou alguém que lhe desse um serviço. O servo era feio e velho, doente e fraco.
Com sacrifício, chegou finalmente ao reino. Vendo os majestosos portões, o primeiro sentimento que teve foi de remorso, perdera tanto tempo por nada.
Imediatamente procurou o rei e lhe contou sua história. Entregando-lhe a botija disse, “Majestade, eis a botija! Estou velho e cansado e nada tenho na vida. Rogo-te que me concedas a recompensa para que descanse em paz.”
O rei abriu a botija e verificou que ela estava completamente vazia.
“Pobre homem”, disse o rei, “nada tens para receber, pois tua recompensa era o fino e valioso ouro em pó que havia dentro da botija e que tu deixaste cair pelas trincas e rachaduras. Essa botija representava teu corpo e o ouro que havia nela, a tua alma. Deixando o caminho que devias percorrer, adquiristes males e vícios, trincando teu corpo com o pecado e a doença, tal qual a botija envelhecida.
As virtudes da tua alma, o amor e a bondade, a fidelidade e a obediência ao teu Senhor, foram sendo levadas da tua alma, assim como o ouro foi derramado da botija, e não podias perceber.
Hoje não tens recompensa. Está vazia a tua botija como vazia está a tua alma.”
Igualmente o Senhor nosso Deus deu a cada um de nós uma botija de barro que nos veste a alma preciosa e eterna.
Ao deixarmos o caminho do Senhor para trilhar o caminho do pecado e dos vícios, perdemos as virtudes da alma assim como a botija quebrada deixa cair pelo caminho o ouro em pó que lhe confere o valor.
Sábio é o homem que guarda sua botija, preservando a sua alma. Terá sempre um precioso tesouro do qual virá paz, alegria e a recompensa final: nossa salvação em Jesus!

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